quinta-feira, 7 de maio de 2009

A FÉ, UM NEGÓCIO?




A comercialização da fé não é uma idéia nova, vem de tempos imemoriais. Muito já se falou e publicou, mas nunca é demais escrever algo a respeito.
Ponta Grossa, não é diferente de nenhum lugar, afinal, nenhuma cidade do mundo está livre da proliferação de seitas e cultos protestantes, talvez o mundo islâmico escape disso, porém, sofre com outros males, seus estados teocráticos, seu fundamentalismo terrorista, machismo violento, etc.

Aqui, não temos terrorismo, pelo menos não no seu sentido clássico, com homens bomba ou coisas do gênero, mas também sofremos violências de algumas seitas protestantes, e entre seus vários tipos, uma violência em especial é a mais preocupante. A violência consciente e premeditada que alguns pastores infligem a seus fieis, que inconscientemente, alienadamente, absorvidos por uma fé, que é autêntica, porém, parece até sobrenatural, permitem. Permitem que lhes tirem boa parte de seu dinheiro, em troca de graças, graças que parecem ser completamente fantasiosas, visto que não existe nenhuma comprovação, mas que para esses fieis são reais, e quando o suposto milagre, cura, ou graça não alcançada, não acontece, são plenamente justificadas pela falácia “foi a vontade de deus”.

Ao darem permissão a seus pastores, esses fieis justificam a existência desses tipos de igreja, que pela legislação brasileira, não precisa pagar impostos pelos seus ganhos, “ganhos da igreja” dizem alguns pastores, ora, as igrejas são eles!
Algumas dessas congregações são grandes empresas, com filiais pelo Brasil e pelo mundo, algumas de capital nacional, outras de capital internacional. Multinacionais da fé, que inspiram a qualquer pessoa, inclusive os mal-intencionados, a possibilidade de montar ou criar um culto novo, uma nova igreja.

O poder da oratória é a principal arma, aliado a um teatro bem armado no palco, no altar ou no púlpito, as musicas, as bandas, luzes, shows de fé. Tudo isso, eletriza, hipnotiza mentes humanas direcionadas, teleguiadas proclamando hinos, cantícos e orações, aos berros, de olhos fechados, tudo altamente sugestionado, ao ponto de haver tremedeiras e desmaios. Um transe induzido, verdadeiro horror, horas de horror, muitos cultos começam as sete da noite e terminam após a meia-noite. Tudo isso com o único objetivo de tirar dinheiro dos incautos fieis. E dá certo, dá certo cada vez mais.

Simultaneamente a essa realidade, existem pessoas que se reúnem para estudos bíblicos, formam outros tipos de igrejas, que não tem o show da fé e de arrecadação, porém, tem também um tipo de fé cega, que se baseia na bíblia, ponto à ponto, virgula à virgula e se contrapõe a igreja católica, e por isso também são considerados protestantes. Penso assim, pé-da-letra é pra gente que não pensa. Seus fieis procuram ter um estilo de vida segundo a receita que interpretam do velho livro hebreu. Esses não querem tirar dinheiro de ninguém, mas se acham superiores, por que vivem pela “palavra” e sabem verdades que nós, simples cristãos, ignoramos. Esses cometem a soberba.

A igreja católica ainda é a maior instituição religiosa do Brasil, seus métodos diferem em conteúdo e prática, mas tem o mesmo objetivo, sem falarmos no seu passado medieval, tão violento quanto o islã atual. Porém, na atualidade, essa igreja tem sido criticada muito mais por seu enorme conservadorismo do que por qualquer outra coisa, conservadorismo aliás, presente em todas as outras religiões aqui citadas, mas que na dimensão católica ganha uma repercussão maior, através das declarações oficiais do papa, sobre temas polêmicos como, o aborto, a pesquisa com células tronco, o celibato, os desvios da moral cristã de alguns sacerdotes e também o esvaziamento de seu discurso.

A reunião de pessoas para professar uma fé, é algo muito valioso, e todos esses aspectos tão negativos, causados por desvios de alguns fundamentalistas, enganadores, prepotentes e hipócritas, que se encontram, infelizmente, no meio de tantas pessoas honestas que praticam a caridade, fazem o trabalho árduo da evangelização e se doam com genuíno amor, causam um risco muito grande, na verdade, um risco que pode se tornar desastroso para as instituições religiosas sérias.

A associação e a organização de pessoas em torno de objetivos comuns e edificantes são necessárias para o processo contínuo da civilização humana, é a base para a construção da democracia.

E as perguntas que ficam são: O que fazer com a nossa fé? O que fazer com o nosso cristianismo? Bem, a opinião que me parece a mais coerente, é a que vem da etimologia da palavra religião, “religare”, ligação com Deus, e nesse sentido, precisamos também de discernimento ao escolhermos como, com quem e de que modo vamos professar nossa fé, tanto quanto para todas as outras escolhas de nossa vida, para fazê-las de modo consciente.

Seja qual for a religião, a mensagem que vale a pena seguir e que é a mais importante e também a mais simples e a mais difícil ao mesmo tempo, é aquela do cabeludo extraordinário que nasceu a mais de dois mil anos, a mensagem de amor e de paz, que alguns de seus pseudos-representantes jamais seguiram.

Alnary Rocha
23/04/2009

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